sábado, 26 de abril de 2014

Uma pena para U.

dar-lhes o gosto da ausência
nosso afeto aumenta













nesse dia imaginei
e desimaginei
desenganado
,e instantaneamente
brotavam gotas do céu
deslizando a atmosfera invernal da preparação de maio
caindo
sobre o rio
já suficientemente molhado

desengano
pois nada sei desse rio
desértico
...abraçado na presença dessa rocha negra

será que devo abandonar
o ímpeto taurino
de obstinadamente procurar?
devo parar de procurar.

então me parece, U., que
concreto, íntegro,
virá a meu encontro
o vento fértil.
...pois já lancei meu grito ao vento
impronunciáveis vezes
e só recebo poeira fina
que me pareceu ouro
na tarde antiga do abril tardio
entrando nos meus olhos.



e minhas frutas repousam e
se decompõem nos canteiros sem serem colhidas pelo ouro do vento
pelas mãos delicadas que aparecem nas pinturas
penduradas no futuro
,nas paredes do futuro, J.

essa rocha ainda não se cansa de lembrar
a rocha negra que ilumina a horta notura

segunda-feira, 14 de abril de 2014

nosso amigo foi-se aos poucos
para tornar-se poeira das estrelas
…traçou um plano por anos
silenciosamente-secreto
para transparente e leve
ir-se junto à torrente.
nos preparou, em segredo,
ao seu sumiço;
acostumou-nos à sua ausência
eou à sua presença rarefeita;
tornou-se suave
aos poucos
e lentamente sorriu solene
enquanto nos observava
ficar.
mofar.
dormir.
falou-nos baixo no pé dos ouvidos (a vida pôde nos cruzar nessa trança curiosa da vida
e fomos o que somos, até hoje)
nós, gratos, nos amamos sem apego
conservamos sem a carne
amor carnal e intenso.
e nem percebi,
quando já há ano,
não nos falávamos,
não sabíamos do paradeiro
do nosso raro amigo.
só hoje ao deitar-me
pude ver a linda renda
trançada com sua mão de ouro
nas curvas do tempo.
só hoje vi o tamanho do seu amor,
presente em tudo.
ausente em tudo.
só hoje notei
a sua presença em todo instante, latente,
somente hoje
notei
que ele nunca existiu.