terça-feira, 17 de maio de 2011

Poema Cinza

Um lagarto caminha devagar
como se caminhar fosse viver.
Um lagarto verde sobre o chão laranja-cobre
caminha mecanicamente sobre
a Terra.

Não há Razão ou Amor
como há para nós...ele caminha:
vamos indo.

Suas unhas fazem rastros minúsculos
que um outro verá
a procura de comida:
o lagarto será comida.

Onda havia lagarto
há comida
de coruja
ou gavião.

terça-feira, 10 de maio de 2011

As Sombras São Flores

caminham como espinhos
mugindo como ferro
rangendo num linólio vermelho
cuspindo e suspirando um rastro
de sangue seco

no canto está um tesouro

nas sombras está a loucura
sob as cortinas grossas
no meio da floresta
cheia de corujas encardidas

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cheio de Dicas


imã
tumba dourada
gravidade em seus seios
um fio de metal atravessa
seu nariz
um fio une nós vermelhos

na água
lentamente
na água
novamente
sua mão se duplica

se amplia quando atravessa minha costela
e roça as unhas dentro do meu pulmão

preciso escovar os dentes
e comprar desodorante;

toda quinta me barbeio
está combinado
toda quinta coloco roupas limpas e engomadas

segunda feira
posso ser preso
...estranho; pois já estou meio
preso

linha de trem 93
na estação um aceno
um pano de minúsculas flores vermelhas
com nós na ponta
ao vento;

um sorriso pula da beirada
e vira choro
sempre o trem está indo
nunca chegando

um sonho
dois anéis se cruzam
é o homem e o mundo

uma tartaruga grita
uma coruja toca um violão ao luar
as corujinhas suspiram ao som do violão
ao vento;

um nó de corda erudita
uma mó feita de mulheres de madeira
uma silenciosa montanha de estrelas atrasadas

uma pássaro forte grita: manoel! onde está
nosso pão manoel?
tem mão robustas e calejadas
de gravurista

unhas pontas secas
palmas secas mergulhadas no ácido fraco

ondas douradas de ônibus
uma canoa viajou o brasil todo
meio distraída

um pardal finge que é um gavião

Eu te quero.
você mesma.
isso. será que é você? não, você não, você. sempre.

vermelha
lua
crescente
tatear
ana
aqui está meu celular: 94
15 54 10

de quinta, já é;
estou mais apresentável
no mais o sovaco não está lá aquelas coisas
mas sou eu meu cheiro, afinal

cabelo dançante
como um compasso pegando fogo

eu entendi
em sonho posso explicar
um verso por dia

cheque-mate
chá sem açucar
mola feita de melão
um bisturi assoviando
caminha do umbigo à
boca do bucho

ó meu brasil
amém

Horas Vaga(i)s



horas agora vagais
rio do tempo...aonde vamos?
2011 é mofo
um colar que se rompe no tempo circular
tomado de lama, rompido por um cutelo silencioso.
que faremos após ler estes livros?
e o quando após nossas brigas?

o que é esta tarde não está coerente;
importa onde aparece
não o que é

uma pintura não é um ventinho gozado
não é um orgasmo dentro de uma sala verde
vida é trabalho

nossas unhas crescentes no céu
estão rangendo no entre-dedos
usemo-las a cavar nosso chão
e achar nossa glória feita de mofo

um fio que é um pio
uma coruja macabra canta a existência
de uma sala negra

tudo é tudo
o belo e o bizarro
o moral e o mortal
a morte e o teatro
a morte se conforma
no canto de uma coruja

vamos dar um beliscão na bunda dos cérebros.

(imagem ao topo: pintura de Luise Weiss, retirada do seu blog Relatos Poéticos)