segunda-feira, 31 de maio de 2010

Pagamento

Caminho à floresta, calculando meus erros e acertos.
Caminho à floresta ao meu gosto, enquanto sozinho posso fantasiar.

Me aparece de repente o mesmo velho que aparece aos homens a séculos.
Um velho eterno...não!
Percebo estar sonhando novamente....e com este velho.

Mas vejo agora que sua feição é mais afeminada.
reparo aos poucos que se trata do mesmo velho em forma de velha.

Pela primeira vez olho em teu rosto:

- Por quê me atormenta novamente, senhora?

- Vivo ao teu lado a séculos, não te lembra? - me diz, seca, a velha.

- Pois sim.Que me importa, se me quer morto? - indaguei-a

- Não te quero morto, ora! - vociferou a velha indignada - Ora rapaz! Quem te fez morto foi você a você mesmo! Fora decisão tua morrer.

- Mas digo pois que foi a senhora que me suicidou!

- Não diga bobagens rapaz! Veja! foi você, se por ventura o fiz, que me obrigou a tal!

- Mas digo pois que foi mesmo a senhora que se obrigou a tal; estava claro o prelúdio desta boba desgraça! esta boba desgraça que chama a senhora de morte!

- Chamo de morte pois convém ao meu coração, covém aos meus ouvidos, à minha boca; pois é sincero.

- Chama de morte como chamo-te de velha.

- Isto!

- Mas digo pois que não é velha.

- Como?! Não vê minhas rugas?
Não vê minha corcunda?
Não vê meus olhos de velha?

- Ora vovó, está claro que é tudo falso, pois tudo isto é macabro!

- Mas pois! Qual! Agora entendo! - a velha gritava entre gralhas e gargalhadas - Agora entendo! Me julga uma Rainha fantasiada de Velha!

- Não, ó imbecil! te julgo criança de rugas!- disse-lhe entre meus sorrisos.

- Criança fora o homem que suicidou-se por covardia!

- Criança fora o homem velho, que deixa este demônio ocupar-lhe o corpo!

- Mas se atreve a tal! Vê-se o rapaz chamando uma velha tão digna de demônio!

- Não chamo a velha de demônio; tal chamo este fogo deslumbrado que não espera! O fogo que se exalta! Este fogo que queima qualquer calma!

- Como sabe tanto desta velha que não te importa nada?! Diga-me agora!

- Disse-me e pois disse-lhe: conhecemo-nos a séculos.

- Mas quê te importa?! Ora agora não diz nada!

- Digo-lhe estar cansado, apenas isto.

- Te cansas qualquer pequeno toque! um toquezinho no corpinho e já fique assustadíssimo!

- Digue mais ó velha! Exalta o demônio! Pode dizer quais as exigências...afastarei minha alma do corpo, se é o que quer.

- Não! - desatou a velha a chorar, derramar lágrimas brancas e viscosas por entre suas verrugas habitadas por pelos.

- Não tenho o que fazer, velha. Prefiro que passe o tempo e tranquilamente volte seu demônio à cama.

O CHORO CONFUNDE-SE AO RISO. A VELHA COMEÇA A GARGALHAR.
O CHORO É RISO; A LÁGRIMA É GOZO.

- É um covarde, rapaz! Estou viva! Urra!

- Pois bem, estou morto. Já disse-lhe; espero o demônio voltar-te à cama sua, ou então à cama de outro. Então sim, um homem que te mereça velha, que tenha um demônio equivalente ou suporte este que quase me matou.

- Exagera agora...

- Sim, exagero...mas segure seu demônio...

- Apenas digo-lhe rapaz, que te busco entre meus dedos; não creio à mim mesma como mostro sempre; te mato pois te sinto falta. Apenas espero no que me resta desta velhice.

Digo-lhe reparando a mudança em sua feição:

-Ó velha, teu rosto muda agora; volta a ser o velho sábio que era, feito homem que vira estátua.

Ao inseto que sobrevoava meu nariz durante a noite

sonhei novamente com um velho.

me disse agora que posso dizer o segredo
pois o vento sopra a favor do nosso tempo.

Porém
o velho me dizia mais algumas palavras sábias:

não...........morra
mate-me...você
por ser......inútil
eu, velho...inútil!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

meus dedos II

Observo a água
Vejo que sua superfície é uma grossa camada
por onde não passam peixes ou folhas.
Posso tocar com a ponta dos dedos
Essa gelatina grossa,
E vejo que na deformação das imagens que ela produz em seu interior
está a face de um tigre.
Não posso agora desvendar por que
mas o tigre é Marina.
Por que sonhei com Marina?
Por que me ocupo mesmo no meu tatear interior
de pensar nessa linha confusa?

No mesmo sonho um velho muito corcunda me grita
que acordarei
e Nada direi.

Grito agora
conforme mandou o velho.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Nada dirá

Sofre o demônio do segredo
o homem que tem aversão
a postar seu corpo do avesso.

O homem que me refiro é um, e não outro
só existe um deste no mundo.
Tem uma combinação de nomes única
nunca se viu e nunca se virá.

Por isso mesmo esconde algo.
Testa algumas vezes quem está à sua volta,
dá pistas, como esta.
Dá pistas de seu inocente segredo,
desculpe; ele o julga importantíssimo,
mas eu o digo menos,
é como destes segredos que não fazem diferença a ninguém.
Claro que não conto a exceção, seu alvo.

Este homem, veja, me contou seu segredo.
O que me disse o homem antes de contá-lo
direi também ao leitor pelo mesmo motivo:

Nada dirá
Nada dirá
Nada dirá
Nada dirá
Nada dirá
Nada dirá
Nada dirá
Nada dirá
Nada dirá
Nada dirá
Nada dirá

Onze vezes é o suficiente.
Segredou-me após isto.
Ou durante, talvez.
Não decifrei ainda este enigma
por mais óbvio que me pareça ser.

sábado, 8 de maio de 2010

pós-perigo

problemas
passarão
sem nem
vermos
terei
até
novos

meus dedos

afago a terra...
terra de onda preta...meus dedos machucam a terra fazendo buracos
esqueci como não ser simples, mas ainda estou no transe
preciso disso...perdi minha nuvem depois de alguns copos
aquela nuvem que faz uma sombra na coroa
minhas mãos estão inúteis assim sujas
deixo minha cabeça ainda mais escura esfregando meu cabelo
a
.b...............m.a.s
..a...........i...........o
...i.x.o...c...............b.....sombra
..........a....................a