quinta-feira, 16 de junho de 2011

intérmino



viver intensamente, a Vida, nada
que uma vela não queime
num piscar noss'alma é um prego, um
botão, dez contos, uma mulher;
passa em marcha lenta
e no Tejo há barcos de todos os tipos:
se há vento, ora! moveremo-nos,
e o tempo há de consumir a dor.

Um corvo traça o Arco da Morte
sob nossa nau, no espelho d'água
nos grita velhas gralhadas;
incita lembranças da Eternidade

Uma névoa agita nosso destino
nosso barco está sempre n'água
mas a tripulação distraída pensa que o casco é a Terra
pensa que a vida no Tejo é vida qualquer
pois é engano
uma tempestade nos ensina!
um sonho nos fere as têmporas!
o Cais nos assusta...
a boa-ventura em mar é-nos a Vida.

viver intensamente, a Vida, me disse
velho pirata caolho
nada que não queime uma vela da Urbe
um marinheiro se perde no concreto
e se julga fora do Mar
pois é engano
o mar esteve sempre dentro de seu peito
e sua ruína está no esquecimento
Do Tejo ao Umbigo.
esqueceu-se
navegante,
que o movimento dos barcos
é proveniente da pré-vida?
os barcos são oriundos da barriga de uma Mãe?
e um Homem é navegante pois desde antes-do-sempre
esteve imerso nas águas
no balanço das ondas
do caminhar de sua mãe.

Onde estão agora os navegantes?
com que sinais secretos eles se comunicam?
viver intensamente, ah! será sempre um desejo?
quê faremos de importante, trupe, se ficarmos
às cegas, cobertos de mofo?
e estes corpos que temos?
Homem Ao Mar!
...entregou-se à gélida Ignorância.

Às amarras que nos dominam
aos nós que criamos:
só dedico meus risos: profanos
até o leito de minha morte
se a Vida é isto
pois é engano.

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