segunda-feira, 25 de abril de 2011

Cartas de Argila II


lembremos!
passou desapercebida uma deusa
pois ela usava uma manta suja
e seu rosto espetacular notava-se apenas quando ela dançava
entre flores seus pés arrastavam poeira
e seu rastro no chão era uma mensagem divina
escondida pelos pés dos transeuntes.
lembremos dessa mensagem como
Desculpe amor, eu não lavei nossa louça
e esqueci minha aliança no parapeito da pia
tudo abaixo era abismo
de profundidade medida por uma população da china
homem sobre homem
chorando as lágrimas do luto do matrimônio.
de quê lembremos?
toda a fantasia sob pingos graúdos d'água
pingos quentes
escorrendo sobre a face da pedra
sobre a face da pele elipsada
da musa que nos apadrinha.
qualquer coisa que nos toque, lembremos.
avante lembremos também que guardamos nossas cartas
numa gaveta mofada esquecida desconsiderada
e as cartas hoje não tocam nos seios das mulheres.
lembremos de responder às cartas dos apaixonados,
caso ocntrário amantes se convertem em paranóicos
maníacos desesperados depressivos
com as olheiras como arcos fundos, pretos.
a todos que cativamos apadrinhamos
e são nossos filhos quem cativamos.
paratanto quem nasce belo
é padroeiro dos olhos de seu caminho,
é pai de todos.

(imagem ao topo: da série "Sobreposições", 1999, de Luise Weiss. retirada de seu blog Relatos Poéticos)

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