terça-feira, 19 de abril de 2011

No meio de uma estrada

me vejo vagueando
e me encontro entre dois lugares
me encontro em lugar nenhum.
uma voz me sussurra
"há cidade à frente?"
não há.

por que razão saí de minha cidade por uma mulher?
pressinto que morrerei no caminho
à alguém que desconheço.
o sacrifício já não toca os amantes,
e no meio de uma estrada constatei minha loucura.

como faço para tatear-te?
como posso te envolver no meu peito?
como vou erguer nossa morada?

se perco tempo...é possível?
se perco meus membros...é possível?
se durmo durante a noite...

a cidade à frente não me acolherá.

2 comentários:

  1. Nunca haverá uma porta. Estás dentro
    E o alcácer abarca o universo
    E não tem nem anverso nem reverso
    Nem muro secreto nem secreto centro.
    Não esperes que o rigor de teu caminho,
    Que se bifurca, contumaz, em outro,
    Encontre um fim. De ferro é teu destino,
    Como teu juiz. Não esperes a investida
    Do touro que é um homem e cuja estranha
    Forma plural dá horror à maranha
    De interminável pedra entretecida.
    Não existe. Nada esperes. Sequer à
    Negra sombra crepuscular, a fera.

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  2. vagueio por estes leitos de perdição
    mas não me vejo preso, ao inverso!
    me vejo tão livre de qualquer canto
    que qualquer canto me faz chorar.
    a negra sombra que é meu rastro
    não é nada senão meu medo,
    a sombra, já disse em outros escritos,
    é uma flor maldita, que nos confunde.

    meu destino é gelatinoso, meu juiz é irreal.
    tudo que me sobra é a fresca imagem do tato
    na pele lisa do corpo que quero.
    minha estrada não tem portas
    o universo está de fronte à terra
    sobre nossa cabeça.

    em tudo que me fala vejo apenas a pedra
    um tumor entre meus pulmões
    comum entre qualquer ser humano.
    tudo espero,até então tenho,
    mas muitos anos a frente
    leio outra vez esta resposta,
    e posso dar razão ao sigano,
    um homem misterioso
    que me abordou em meu caminho.

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