ainda o são, ou devem o ser. pois imagino que lá estejam, mesmo sem eu para olhar. desde milhares de anos e desde antes dos anos e do tempo existirem palavras. aquelas pedras que abraçam o encontro do são miguel e o do tocantinzinho.
por vezes pareciam lagos escorridos de cobre fundido. esculturas metálicas quentes, lisas, macias, indestrutíveis. brotando do feixe de água misteriosamente no meio do cerrado seco.
foi ali mesmo que toquei a plenitude,
como se toca a água num sonho.
meus óculos haviam quebrado. meus dois pés estavam com bolhas e dores raízes,
b. estava lá. saímos ao léu na estrada e chegamos de carona ao encontro das águas.
ainda posso sentir meus óculos queimando prazerosamente no sol da pedra, observando ela caminhando rápida à minha frente. havia b. e havia eu, embaixo do sol, indo nadar na correnteza da água azul verde entre os cânions vivos do encontro.
(dias depois fui com o peito aberto fazer um batuque com esses guardiões, eles fantasiados de eco
dos meus tapas ritmados nesta mesma pedra negra)
ainda sinto seu corpo quente e fresco, exalando nossa cachoeira.
olhávamos a queda dágua, destruídora, mortal. era uma espiral. minha mão sentiu seu desejo. minha boca descansou no pescoço dourado. eu via a morte. Então um pato desajeitado se deixou levar à morte certa. emergiu pouco depois co um peixe na boca.
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