Caminho à floresta, calculando meus erros e acertos.
Caminho à floresta ao meu gosto, enquanto sozinho posso fantasiar.
Me aparece de repente o mesmo velho que aparece aos homens a séculos.
Um velho eterno...não!
Percebo estar sonhando novamente....e com este velho.
Mas vejo agora que sua feição é mais afeminada.
reparo aos poucos que se trata do mesmo velho em forma de velha.
Pela primeira vez olho em teu rosto:
- Por quê me atormenta novamente, senhora?
- Vivo ao teu lado a séculos, não te lembra? - me diz, seca, a velha.
- Pois sim.Que me importa, se me quer morto? - indaguei-a
- Não te quero morto, ora! - vociferou a velha indignada - Ora rapaz! Quem te fez morto foi você a você mesmo! Fora decisão tua morrer.
- Mas digo pois que foi a senhora que me suicidou!
- Não diga bobagens rapaz! Veja! foi você, se por ventura o fiz, que me obrigou a tal!
- Mas digo pois que foi mesmo a senhora que se obrigou a tal; estava claro o prelúdio desta boba desgraça! esta boba desgraça que chama a senhora de morte!
- Chamo de morte pois convém ao meu coração, covém aos meus ouvidos, à minha boca; pois é sincero.
- Chama de morte como chamo-te de velha.
- Isto!
- Mas digo pois que não é velha.
- Como?! Não vê minhas rugas?
Não vê minha corcunda?
Não vê meus olhos de velha?
- Ora vovó, está claro que é tudo falso, pois tudo isto é macabro!
- Mas pois! Qual! Agora entendo! - a velha gritava entre gralhas e gargalhadas - Agora entendo! Me julga uma Rainha fantasiada de Velha!
- Não, ó imbecil! te julgo criança de rugas!- disse-lhe entre meus sorrisos.
- Criança fora o homem que suicidou-se por covardia!
- Criança fora o homem velho, que deixa este demônio ocupar-lhe o corpo!
- Mas se atreve a tal! Vê-se o rapaz chamando uma velha tão digna de demônio!
- Não chamo a velha de demônio; tal chamo este fogo deslumbrado que não espera! O fogo que se exalta! Este fogo que queima qualquer calma!
- Como sabe tanto desta velha que não te importa nada?! Diga-me agora!
- Disse-me e pois disse-lhe: conhecemo-nos a séculos.
- Mas quê te importa?! Ora agora não diz nada!
- Digo-lhe estar cansado, apenas isto.
- Te cansas qualquer pequeno toque! um toquezinho no corpinho e já fique assustadíssimo!
- Digue mais ó velha! Exalta o demônio! Pode dizer quais as exigências...afastarei minha alma do corpo, se é o que quer.
- Não! - desatou a velha a chorar, derramar lágrimas brancas e viscosas por entre suas verrugas habitadas por pelos.
- Não tenho o que fazer, velha. Prefiro que passe o tempo e tranquilamente volte seu demônio à cama.
O CHORO CONFUNDE-SE AO RISO. A VELHA COMEÇA A GARGALHAR.
O CHORO É RISO; A LÁGRIMA É GOZO.
- É um covarde, rapaz! Estou viva! Urra!
- Pois bem, estou morto. Já disse-lhe; espero o demônio voltar-te à cama sua, ou então à cama de outro. Então sim, um homem que te mereça velha, que tenha um demônio equivalente ou suporte este que quase me matou.
- Exagera agora...
- Sim, exagero...mas segure seu demônio...
- Apenas digo-lhe rapaz, que te busco entre meus dedos; não creio à mim mesma como mostro sempre; te mato pois te sinto falta. Apenas espero no que me resta desta velhice.
Digo-lhe reparando a mudança em sua feição:
-Ó velha, teu rosto muda agora; volta a ser o velho sábio que era, feito homem que vira estátua.
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